Carta para a "Karma"

Um dia o meu amor acabou.

Caiu-me ao mar e já submerso, quanto mais o tentava apanhar mais ele se afundava. Ao longe, enquanto mergulhava para o salvar, vi uma criatura maléfica aproximar-se e levar o meu amor com ela. Era feia, enorme e assustadora. Tinha mil tentáculos, aspecto asqueroso mas achava-se sereia, loucamente orgulhosa.

Partilhávamos o mar como casa, ela nas profundezas e eu na superfície, como tal ela nadava veloz, competia os seus mil tentáculos com as minhas duas pequenas pernas e assim, fugiu rapidamente levando-me o meu amor maior. Ria maquiavélica enquanto me olhava e gritava “não te preocupes, ninguém morre de amor”.

Um dia, em conversa, uma humilde camponesa contava-me que a maligna criatura ficava muitas vezes escondida no mar, debaixo da ponte onde várias vezes eu me sentava para contar ao mundo a beleza do meu amor, a sua pureza e imensidão, a ouvir e fazer planos para ela. A criatura, com miserável vida e sem saber nada de amor sincero, quis roubar-me o que era tão meu, o que era tão bonito e precioso: quis provar aquele que era o meu amor verdadeiro.

Na ilusão de um amor a criatura apaixonou-se – ou assim acredita ela – viveu iludida de que seria aquele amor dela para sempre, não querendo saber que o amor na verdade vivia noutra pessoa. A criatura fingiu ser humana, fingiu ter sentimentos, fingiu ser melhor e interessante por achar que ser ela própria não chegaria. De facto, nunca teria chegado, mas teria sido melhor.

A criatura, notando não ser suficiente, abriu os tentáculos, culpando o meu amor de que esperneava muito e de que tinha de ser livre.

Ao fim de alguns meses o meu amor livrou-se desse mal, subiu à superfície e procurou-me.

O meu amor, será sempre meu, será sempre para a vida toda, venha quem vier e haja o que houver. O meu amor era bom antes, mas agora é magnifico. A criatura, sem saber, deu-nos uma nova vida, uma nova oportunidade, um Upgrade. A criatura diz sofrer, diz bater...com a cabeça contra as paredes e não conseguir seguir avante .. então bicho, não dizias que ninguém morre de amor? Então levanta esse peso morto se conseguires e desaparece.

Entende que nunca ninguém me calou com flores (porque não gosto delas) e muito menos com jóias (sou mulher que compra as suas próprias jóias). Nunca ninguém te amou e o passatempo de verão acabou. Entende que não foi a roubares o que era meu nem a inventares coisas sobre mim que me conseguiste afastar do meu maravilhoso destino que se chama AMOR.

Sabes criatura, de ti tenho apenas pena. Devias ter entendido que o meu amor tinha acabado, mas não morrido.

No fundo, foste a melhor pior coisas que podias ter acontecido: se não fosses tu, talvez não me tivessem dado valor. Dizem que há males que vêm por bem.

Agora se faz favor, abre os olhos para a tua vida antes que percas todos ao teu redor. Agora, se faz favor, desaparece das nossas.

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